Alta no preço do petróleo cru é causa de esperança para o etanol
A recuperação no preço do petróleo fez com que as perspectivas do álcool combustível (etanol) produzido com resíduos agrícolas - no passado a grande esperança do setor de combustíveis alternativos - voltassem a parecer promissoras.O presidente do último consórcio que persiste em produzir etanol dessa maneira em escala industrial acredita que as outras companhias tenham errado ao descartar o método, agora que os consumidores estão encarando uma alta nos preços dos combustíveis.
O presidente do último consórcio que persiste em produzir etanol dessa maneira em escala industrial acredita que as outras companhias tenham errado ao descartar o método, agora que os consumidores estão encarando uma alta nos preços dos combustíveis.
Feike Sijbesma, presidente-executivo da Royal DSM, uma empresa holandesa que é parte de um grupo que trabalha com etanol celulósico na usina Project Liberty, em Iowa, disse que o projeto estava a caminho de produzir combustível em preço competitivo com o da gasolina, e que a alta no preço do petróleo estava ajudando.
A recente recuperação nos preços do petróleo, para mais de US$ 75 por barril de petróleo cru padrão Brent, despertou esperanças de que o etanol celulósico possa se provar competitivo, se os problemas de engenharia restantes puderem ser resolvidos.
"O caminho não foi fácil, mas estamos chegando lá", ele disse ao Financial Times. "A tecnologia é mais complicada do que qualquer um imaginava, no começo".
A DSM, uma empresa de biotecnologia e produtos químicos, criou a usina Project Liberty em parceria com a Poet, uma fabricante americana de etanol, a fim de produzir combustível usando sabugos de milho, folhas e cascas que restam nos campos depois da colheita.
A cerimônia de inauguração da usina aconteceu em 2014, mas ela ainda não atingiu sua capacidade plena de produção de 75 milhões de litros de etanol por ano.
A DuPont, dos Estados Unidos, e a Abengoa, da Espanha, que vinham realizando projetos semelhantes, os abandonaram.
A usina Project Liberty continua a operar, no entanto, e o volume produzido está crescendo. Em um sinal da crescente confiança do consórcio Poet-DSM sobre a tecnologia, no ano passado o grupo assumiu o compromisso de construir no local instalações para a produção das enzimas usadas para decompor a celulose presente nos resíduos de milho, a fim de produzir combustível.
Sijbesma disse que o principal desafio que a Project Liberty vinha enfrentando era administrar a logística da coleta dos resíduos de safras de milho e seu processamento para tratamento na usina. As enzimas superaram as expectativas em termos de sua efetividade na decomposição da celulose, mas surgiram problemas de engenharia como a dificuldade de remover terra, areia e pedras recolhidos junto com o material vegetal.
Ele acrescentou que esses desafios de processamento devem se provar mais fáceis de resolver do que a questão científica fundamental de como usar enzimas para decompor a celulose, porque eles são o tipo de que questão a que as empresas estão acostumadas em outros processos industriais.
Em novembro do ano passado, a companhia anunciou um "grande avanço" na usina, desenvolvendo uma forma de pré-tratamento para os resíduos de milho que permitia que as enzimas e fermentos usados na produção do etanol trabalhassem com mais facilidade.
Poet e a DSM esperam licenciar sua tecnologia para outros produtores, afirmando que ela "oferece uma imensa oportunidade de negócios" para empresas que estejam produzindo etanol de primeira geração com base em milho e outros grãos.
Se a Project Liberty estivesse produzindo em plena capacidade, seu etanol seria competitivo com a gasolina, aos preços atuais, disse Sijbesma. "Quanto mais alto o preço do petróleo, mais econômicos nos tornamos", ele acrescentou. "Qual é o preço com que nos sentimos confortáveis, para o petróleo? US$ 70". O petróleo cru padrão Brent subiu para mais de US$ 79 por barril esta semana, pela primeira vez desde 2014.
Uma década atrás, o etanol celulósico era visto por muitos como vital para a oferta futura de energia, oferecendo uma alternativa aos combustíveis fósseis, com emissões menores dos gases causadores do efeito estufa; além disso, essa forma de etanol não compete com a demanda por alimentos. A Lei de Independência e Segurança Energética dos Estados Unidos, de 2007, estabeleceu metas ambiciosas para o uso de biocombustível celulósico, que o setor não chegou nem perto de atingir. Apenas 38 milhões de litros de etanol celulósico foram produzidos nos Estados Unidos no ano passado, o que equivale a 0,2% da meta original para biocombustíveis.
A DowDupont, companhia formada pela fusão entre a DuPont e a Dow Chemical, suspendeu a produção em sua usina de etanol celulósico em Iowa, e a colocou à venda.
A Abengoa também suspendeu a produção de sua usina de etanol celulósico em Hugoton, Kansas, em 2015. A usina de Hugoton entrou em concordata em 2016, e foi adquirida no final daquele ano por uma empresa americana chamada Synata Bio, que derrotou a Royal Dutch Shell em um leilão, com uma oferta de US$ 48,5 milhões. Fontes setoriais afirmam que a usina não parece estar produzindo etanol celulósico. A Synata declarou que "não faremos qualquer comentário sobre Hugoton, no momento".
Outras empresas estão tentando caminhos diferentes para produzir etanol celulósico. A DowDupont, por exemplo, vende enzimas para o chamado combustível "geração 1,5", feitas com os grãos de milho que restam da produção de etanol convencional. A Aemetis, da Califórnia, planeja desenvolver uma usina para produzir etanol celulósico com cascas de frutas secas e resíduos de pomares.
As metas para uso de biocombustíveis estabelecidas sob a lei de 2007 ainda existem, mas em forma fortemente modificada. O requisito de uso de biocombustíveis celulósicos caiu para cerca de 5% de seu nível original, e a maior parte da meta é cumprida não por meio do etanol mas sim do gás natural renovável, produzido em aterros sanitários e usinas municipais de tratamento de esgotos.
Para 2018, o volume de biocombustíveis celulósicos que deve ser usado, sob a norma, é de 1,09 bilhão de litros, ante 1,18 bilhão de litros em 2017. Geoff Cooper, da Associação do Combustível Renovável dos Estados Unidos, alertou que essa redução teria "efeito paralisante" sobre os esforços para expandir a produção de biocombustível celulósico.
O presidente Donald Trump está estudando possíveis mudanças na regulamentação para encorajar a venda de etanol, e por enquanto o futuro do setor nos Estados Unidos continuará a depender fortemente de medidas de apoio da parte do governo. Em prazo mais longo, porém, as perspectivas do etanol celulósico e outros biocombustíveis, em todo o mundo, serão muito mais positivas caso os preços do petróleo mantenham o nível atual ou subam ainda mais.
Fonte: folha de s.paulo