Preço elevado do gás pode reduzir produção industrial


Os preços elevados do gás natural podem inviabilizar o consumo de alguns setores da indústria, levando a um recuo da produção. Para agentes do setor, a falta de competição é a principal razão do alto custo dessa fonte energética. “Enquanto não houver uma ação conjunta para abrir o mercado e reduzir o poder da Petrobras, o País irá lidar com essa realidade. 

O preço do gás natural não é comparável ao de economias cuja indústria compete com a nossa e esses aumentos podem inviabilizar a manutenção do consumo”, avalia o sócio-diretor da Gas Energy, Rivaldo Moreira Neto.Na última quinta-feira (21), o diretor-geral da Agência Natural do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Décio Oddone, declarou que o preço do gás liquefeito de petróleo (GLP) praticado pela Petrobras está acima da paridade internacional. Uma pesquisa feita por uma consultoria independente apontou que a cotação deveria ser de R$ 19,70 por botijão, contra R$ 25 praticados pela Petrobras.Moreira explica que por conta da ausência de concorrência, a estatal tem a liberdade de precificar o gás de modo a maximizar seus resultados financeiros.

"A Petrobras passou recentemente por uma situação financeira muito ruim, em virtude de uma política de controle de preços. Agora, fez essa opção para se recuperar. Isso acarreta em um encarecimento da atividade industrial e acaba sendo negativo para a economia do País. "Os setores da indústria mais impactados são aqueles com uso mais intensivo de energia, como siderurgia, química e vidro. "Esses segmentos se adequaram muito bem ao gás e se tornaram bastante dependentes”, aponta Moreira. “Alguns setores podem alterar o consumo para outros combustíveis, como a biomassa, enquanto outros nem conseguem mudar, o que afeta a produção", assinala.

Acordo Na sexta-feira (22), o governo do Estado de São Paulo anunciou um acordo entre a indústria paulista e a distribuidora Comgás para reduzir o reajuste no preço do GLP de 37% para 23% a partir de 1° de março. “Cerca de 80% do consumo de gás natural no estado é industrial”, explicou o vice-governador, Rodrigo Garcia, em coletiva de imprensa.O presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel, acredita que o acordo foi positivo dentro das circunstâncias, mas que a conta ainda é pesada para o setor produtivo.

"As empresas não estão conseguindo repassar o preço. A energia é um insumo fundamental para a indústria."O dirigente entende que, independentemente do acordo, o Brasil tem que enfrentar uma agenda estruturante para melhorar sua competitividade. "Nos tornamos um País caríssimo e isso reflete na nossa capacidade de conquistar mercados no mundo e atender à demanda interna. "Moreira avalia que, embora o atual patamar de preços seja desanimador, existe um horizonte otimista em virtude da produção do pré-sal. "Já há um consenso por parte do governo e dos agentes do mercado da necessidade de liberalizar o mercado. A exploração e produção de petróleo e gás estão atraindo grandes players ao País, agora falta criar esse ambiente para desenvolver a ponta do setor."


Fonte: DCI