Após tarifas dos EUA, indústria de aço brasileira pressiona governo por mais proteção


A menos de uma semana do fim da isenção temporária que as siderúrgicas brasileiras conseguiram às tarifas impostas pelos EUA, a indústria não investe apenas na negociação fora do país, mas também pressiona o governo para também criar mais barreiras de proteção e regras de conteúdo local.

A demanda não é nova, mas se tornou mais urgente em meio à escalada de medidas de proteção globais após o anúncio de que os Estados Unidos cobrariam 25% das importações, segundo o Instituto Aço Brasil, associação de empresas brasileiras do segmento.

“Parece que estamos indo na contramão. Americanos e europeus estão fechando seus mercados, e aqui [o ministério da] Fazenda falando que quer abrir mercado, que processo anti-dumping afeta competitividade”, afirma Alexandre Lyra, presidente da Vallourec e do conselho da entidade setorial.

A pauta provavelmente será trabalhada com o próximo governo, já que este, já em sua reta final, tem tido uma postura contrária ao pleito, segundo o executivo.

No entanto, as companhias brasileiras já se organizam para fazer missões à China, com o intuito de convencer grandes empresas que têm levado concessões no Brasil a comprar aço brasileiro.

O temor, diz ele, é que com a entrada de mais estrangeiros nas obras de infraestrutura — especialmente os chineses —, aumente a importação de materiais como aço e cimento.

“Tem que ter algum tipo de mecanismo ao ‘buy Brasil’. Se não quer chamar de conteúdo local, porque a palavra é feia, muda o termo. Mas alguma coisa para proteger a indústria de transformação nacional vai ser necessária”, afirmou Lyra.

COTAS

Em relação às negociações com o governo americano, a indústria corre para chegar, junto ao governo brasileiro, a um acordo definitivo com o país.

O Brasil conseguiu uma isenção temporária à tarifa americana, mas a licença vence na próxima segunda-feira (30), e ainda não se sabe se o prazo será estendido.

Por enquanto, a expectativa é que sejam criadas restrições do quanto cada país poderá vender aos EUA, com a sinalização americana de que será criado um sistema de cotas. As empresas aguardam mais informações sobre como funcionaria esse mecanismo.

“Os EUA estão se organizando para isso, não tem o modelo pronto. Deverá se determinar um agrupamento de produtos, e são alocadas cotas. Uma vez definida a cota global, vamos ter que sentar com as associadas, e aí imagine que não será uma missão fácil fazer essa distribuição das cotas”, afirma o presidente-executivo da associação setorial, Marco Polo de Mello Lopes.

Ainda não está claro como seria a divisão entre produtos, empresas, e tampouco se o controle será feito no próprio país exportador ou já nos Estados Unidos, diz.

Marco Polo afirma que a negociação com os americanos não envolve outros setores, tal como fez a Coreia do Sul — que abriu mais seu mercado a importações de carros americanos em troca de isenção.

Os Estados Unidos são os maiores compradores da indústria siderúrgica brasileira. As perdas anuais com as tarifas seriam de cerca de R$$ 1,1 bilhão ao ano, segundo estimativa do Ipea. Em 2017, o Brasil exportou US$ 2,63 bilhões (cerca de R$ 9,1 bilhões) ao país.

A medida, anunciada do presidente Donald Trump em março deste ano, afetaria principalmente as empresas que vendem aço semimanufaturado.

O setor argumenta que o produto, principal item de exportação aos EUA, não prejudica a indústria norte-americana e, pelo contrário, seria complementar à sua atividade, já que as chapas são transformadas em peças usadas para fabricar eletrodomésticos, automóveis e outros produtos.



Fonte: folha