Mineração respondeu por 9% do desmatamento na Amazônia brasileira entre 2005 e 2015


Um estudo inédito publicado nesta quarta-feira no periódico científico “Nature Communications” reavaliou o impacto da mineração na Floresta Amazônica no Brasil e afirma que ele é bem maior do que se pensava, além de se estender muito além das áreas de concessão. 

Segundo a pesquisa, liderada por Laura Sonter, da Universidade de Vermont, EUA, a atividade respondeu por 9% do desmatamento no bioma entre 2005 e 2015, num total de 11,67 mil quilômetros quadrados no período, bem mais que os 2% que se estimavam até agora. Além disso, ele revelou que 90% da destruição de áreas de mata ocorreu em trechos fora das concessões para exploração mineral, alcançado até 70 quilômetros de distância dos seus limites.
 
Recentemente autorizada e depois revogada pelo presidente Michel Temer, a extinção da Reserva Nacional do Cobre e Associados (Renca), entre os estados do Amapá e Pará, gerou polêmica e chamou a atenção da população para o impacto da mineração no meio ambiente, em especial na Amazônia. Isto porque, embora a ideia por trás do estabelecimento da reserva de cerca de 47 mil quilômetros quadrados nos anos 1980 fosse assegurar o controle a exploração de depósitos minerais estratégicos para o país, de lá para cá diversas unidades de conservação e terra indígenas acabaram se sobrepondo a sua área, com a liberação da atividade trazendo possíveis prejuízos ambientais para elas.
 
Faltavam, no entanto, estudos mais formais sobre os reais impactos da mineração na floresta, lacuna que esta nova pesquisa pretende começar a preencher. O levantamento foi feito com base em dados de satélite do Projeto de Monitoramento do Desflorestamento na Amazônia Legal (Prodes), nos quais os cientistas acompanharam mudanças no uso da terra em torno dos 50 maiores projetos de exploração mineral na região entre 2005 e 2015.
 
- Nossos resultados mostram que a mineração é agora uma causa substancial de perdas da Floresta Amazônica – diz Laura. - Estimativas anteriores presumiam que a mineração provocava talvez 1% ou 2% do desmatamento. Bater a marca dos 10%, no entanto, é alarmante e demanda ação.
 
De acordo com os pesquisadores, a infraestrutura para a exploração mineral e seu escoamento é a principal causa de desmatamento fora das áreas de concessão. A conta inclui a construção de moradias para os operários e de novas rotas de transporte – estradas, ferrovias e aeroportos. Eles destacam ainda que a criação desta infraestrutura, em geral erguida pelas companhias de mineração, acaba permitindo outras formas de destruição da floresta, como a “limpeza” de áreas para a agricultura, que continua a ser, de longe, a principal causa de desmatamento da Amazônia. Mesmo assim, as empresas, ao requererem as concessões, só precisam avaliar os impactos que a atividade terá dentro de seus limites.
 
- Esperamos que estes achados ajudem o governo, a indústria e os cientistas a trabalharem juntos para resolverem esta questão – conclui Sonter, que recentemente se transferiu para a Universidade de Queensland, na Austrália.

Fonte: Jornal O Globo