Indústria de açúcar do Brasil não vê fim próximo para escassez global


O Brasil não deve ajudar a diminuir o déficit global de açúcar no próximo ano, uma vez que a produção de cana-de-açúcar do maior exportador mundial do adoçante está prevista para, no melhor cenário, igualar-se aos números de produção desta temporada, disseram líderes do setor nesta segunda-feira.

O mundo está enfrentando seu segundo ano de déficit global de açúcar, mas a Organização Internacional de Açúcar (ISO, na sigla em inglês) disse na última semana que a escassez poderia estar perto do fim, à medida que outros países aumentam sua produção em resposta aos preços mais altos.

O Brasil, no entanto, não deve estar entre estes países.

"No geral, a tendência é de zero crescimento na produção de cana do Brasil", disse o presidente do conselho da Copersucar, Luis Roberto Pogetti, durante conferência em São Paulo promovida pela União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica).

Os preços futuros de açúcar caíram desde outubro, mas ainda estão próximos de máximas de quatro anos devido aos apertados estoques do adoçante.

Um dos fatores que tem limitado a safra de cana do Brasil é a falta de investimento pelas usinas endividadas. Replantar de 15 a 20 por cento de suas safras de cana que estão envelhecendo é o maior investimento anual que as usinas enfrentam se querem manter a produtividade.

"Estamos mantendo nossos investimentos (capex), mas nós sabemos que algumas companhias estão tendo dificuldades em fazer investimentos nos campos", disse Rui Chammas, presidente da Biosev, o braço de açúcar e etanol da Louis Dreyfus no Brasil. "Então eu acho que vamos continuar a ver déficit por algum tempo e um prêmio sobre os preços do açúcar."

A maioria dos analistas projeta a safra de cana do Brasil em 2017/18 inalterada ou ligeiramente menor, em comparação com cerca de 600 milhões de toneladas para a região centro-sul neste ano. A falta de investimento no replantio dos campos de cana e o clima seco ao longo de 2016 deve limitar a quantidade de cana colhida por hectare no próximo ano.

Mas as usinas deverão focar na produção de açúcar, inclusive aumentando-a levemente em detrimento do etanol, que oferece menor retorno às usinas do que as vendas de açúcar.

Chammas acredita que essa perspectiva vai continuar positiva para os preços e não vê os futuros do açúcar bruto recuando no curto prazo.

A Biosev já fixou 50 por cento de seu açúcar da safra 2017/18, cuja moagem começará entre março e abril. O presidente da empresa diz que os futuros estão claramente atraentes, então vender antecipadamente continua sendo uma boa estratégia.



Fonte: Marcelo Teixeira | Novacana