Indústria marítima reduzirá em 50% emissões de gases de efeito estufa


RIO — Representantes de 170 países concordaram em reduzir pela metade, até 2050, as emissões de gases-estufa da indústria marítima mundial, em relação aos níveis registrados em 2008. Esta é a primeira vez que o setor se compromete a diminuir a liberação de poluentes. O Brasil foi um dos principais opositores do acordo.

As negociações ocorreram durante esta semana em um encontro em Londres da Organização Marítima Internacional (OMI). Como se trata de uma atividade internacional, o setor foi excluído dos principais documentos que propuseram a redução da emissão de gases-estufa — o Protocolo de Kioto e o Acordo de Paris. 

O transporte marítimo gera aproximadamente a mesma quantidade de poluentes que a Alemanha e, se fosse contabilizado como uma nação, seria o sexto maior emissor do mundo.

A redução de 50% provocou uma divisão entre os negociadores. Países insulares e a União Europeia reivindicaram um acordo mais ambicioso, impondo, no mínimo, um corte de 70% até o meio do século. Já o Brasil, EUA e Arábia Saudita figuraram entre as nações contrárias ao modo como o documento foi redigido.

Laurent Parente, o embaixador de Vanuatu, um pequeno Estado insular, admitiu sua insatisfação, mas espera que o acordo seja um primeiro passo para ações mais rígidas no futuro.

— É o melhor que podemos fazer e, por isso, será apoiado por nossa delegação como uma estratégia inicial, que sem dúvida evoluirá para ambições mais elevadas.

Em nota, o Itamaraty afirmou que o governo brasileiro expressou dúvidas porque a redução de 50% até 2050 poderia levar a "aumentos no custo do frete marítimo, com impactos negativos desproporcionais sobre países em desenvolvimento e geograficamente distantes dos seus mercados, impactos pouco estudados".

Ainda segundo o comunicado, "não existem informações suficientes sobre os custos de novas tecnologias necessárias para cumprir com essa meta". Além disso, o acordo violaria o "princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas", que pauta as cooperações internacionais sobre a redução das emissões. Segundo este princípio, "qualquer medida para reduzir emissões deverá ter seus impactos sobre os países em desenvolvimento avaliados com antecedência, em especial considerando fatores como distância dos mercados, o tipo de carga, a segurança alimentar e o desenvolvimento socioeconômico".

O chefe da delegação americana, Jeffrey Lantz, também manifestou sua oposição ao acordo:

— Não apoiamos o estabelecimento de uma meta de redução absoluta neste momento. Além disso, notamos que o corte significativo de emissões no setor de transporte internacional dependeria da inovação tecnológica e de novas melhorias para eficiência energética.

Lantz reiterou que os EUA, sob o comando do presidente Donald Trump, anunciaram sua retirada do Acordo de Paris.

De fato, o acordo da OMI enviará um sinal para a indústria marítima de que é necessário investir em inovações, já que, para atender as metas, os navios provavelmente terão que operar mais lentamente para queimar menos combustíveis.

As embarcações devem ser adaptadas para abrigarem motores que usem energia limpa, como hidrogênio, baterias ou até mesmo pelo vento.



Fonte: oglobo